segunda-feira, 1 de abril de 2013

Só peço ajuda. Só quero ajuda.

Tudo começou com um corte, feito por uma faca de cozinha. E a dor ia embora, junto com as lágrimas e o sangue que pingava no chão gelado do banheiro. Ali, trancada, sozinha. Desabando. ''Eu me odeio, eu me odeio, eu me odeio, eu não sou ninguém.'' -as palavras a faziam chorar mais ainda.
Pegou o estilete e olhou para seu reflexo no espelho.
-Ninguém gosta de você! Você não é nada! Você não é ninguém! -ela gritava para si mesma. -Você não merece o que tem. Você não merece o amor nem a pena de ninguém. Ninguém!
Jogou-se no chão e bateu a cabeça contra a parede.
-Você não tem amigos.
Um corte.
-Você não tem família.
Mais um corte.
-Você não é nada.
A lâmina afundava em seu pulso.
A mãe não ligava. Se cortar era apenas um drama idiota. O pai? Dizia que a filha era uma pirralha delinquente. A vida...
-QUE VIDA? -ela gritou.
A única pessoa que a entendia, que a amava, que era verdadeira... estava tão longe.
Ela estava sufocada. Ela só queria gritar por socorro. Ela precisava gritar. Ela só queria a ajuda de alguém.

Eu só quero a ajuda de alguém.

Não, isso não é algo de que me orgulhe. A dor que sinto ao ver as cicatrizes. Ao ver o estilete. A vontade de acabar com toda a dor de uma vez por todas. Uma vontade imensa, tomando conta de mim. Eu poderia simplesmente acabar. Acabar com todas as lágrimas. Todo o sofrimento. Todos os ataques, todos os gritos. Mas sempre que corro e pego a lâmina... eu penso de você. Sei que não mereço seu amor. Não mereço o amor de ninguém. Mas eu lembro de tudo que passamos e penso em tudo que ainda podemos passar. Penso no que eu não poderia fazer você passar. Não desejo a ninguém a dor que sinto.

''Pirralha mimada!'' ''Filhinha de papai!'' ''Você não dá valor a vida que tem!''

Mais um corte.

E ainda estão aqui. Todas as marcas em meu pulso. O choro que vem ao lembrar.
A vontade de acabar com tudo isso.

Eu só quero a ajuda de alguém.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E também de te dizer, que tudo isso vai passar.

Eu só queria que a vida fosse mais devagar. Devagar o suficiente para eu poder pensar, para eu poder me decidir, para eu finalmente dizer o quanto eu te amo. Sim, eu espero muito um dia ter coragem e expressar esse meu amor complicado, de dizer que te amei desde a primeira vez que te vi, de sei lá, me sentir livre desses sentimentos presos em minha garganta. E também de te dizer que isso vai passar. Eu quero que passe, eu quero que acabe. Eu sei que nós dois nunca daremos certo, que nunca seremos almas gêmeas, que nunca nem teremos nada. Só quero te dizer que sim, eu te amei, que passei noites em vão pensando em ti, que por um momento eu achei que você fosse o grande amor estrela-cruzada da minha vida. Mas não, você não é, e eu preciso me libertar disso tudo. Eu só queria que tudo fosse mais devagar. Ou simplesmente parasse.

Te odeio porque te amo.

As vezes eu tenho muita raiva de mim. Raiva de mim por ser tão idiota e conseguir me apegar por pessoas mais idiotas ainda. Raiva de mim por ter tanto ciúme de você, raiva de mim por ser tão egoísta. Eu queria que você fosse apenas meu, que estivesse sempre ao meu lado. Eu queria que você me visse como a sua pequena, e não apenas mais uma. Não, eu não gosto dessa sua amiguinha, não gosto de quando você a abraça, e odeio quando você a beija. Mas eu me odeio mais. Me odeio por não conseguir odiar esse seu sorriso bobo, seu estilo despojado, e sei lá, me odeio por não conseguir odiar você e esse seu amor tão confuso.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Desculpa.

Me desculpe por sempre errar, por nunca conseguir fazer nada certo. Desculpe por não ter conseguido ser a pessoa que você queria que eu fosse e que você merecia. Eu nunca vou poder ser o melhor pra ninguém. Eu nunca vou conseguir ser a pessoa certa para você. Eu sinto falta do seu abraço, sinto falta do seu sorris bobo, dos seus lábios, dos seus poemas, das suas frases. Sinto falta do seu toque, da sua mão na minha. Sinto falta de olhar nos seus olhos e dizer que amo você. E eu sinto tua falta. Caralho, e como sinto. Eu amo você. Eu amo você, eu nunca deixei de amar. Nunca deixei de pensar em ti um segundo sequer. Me desculpa por não ter sido honesta com você. Me desculpa, mas eu só achei que você não merecia tudo isso. Todos os ataques, os gritos, os choros compulsivos, todas as vezes em que tento me cortar, desejo morrer e me sinto uma merda na vida. Me desculpa João. Só me desculpa. Eu te amo mais do que tudo. Lembra? Carol Tavares? Lembra? Eu nunca esqueci, nem nunca irei esquecer. Me desculpa por todas as mensagens, todas as ligações que ignorei. Me desculpa por aquele dia no restaurante. Me desculpa as palavras, a bebida, os choros e desabafos, é que eu me importo demais com você e não suportaria te ver partir depois que descobrisse quem eu sou de verdade.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ei, não foi nada fácil. Ainda não é.

Vamos lá, mais um texto sobre ti. Mais um texto que talvez você nunca leia, nunca saiba, nunca encontre. Talvez, talvez. Talvez nunca seja uma palavra forte demais também. Sei lá, só talvez. Não vou começar com o clichê eu lembro de quando... não. Dessa vez, esse vai ser um texto sobre nós. E o quanto somos errados.
Já perdi a conta de quantos textos eu tentei te escrever. Nunca - pois é - tive coragem de te mostrar, muito menos te dizer o que eu sentia. Eu já disse que sinto sua falta? Porque eu sinto. Demais da conta. Eu te amo. Eu tenho raiva de você e dessa distância estúpida que nos separa. Eu sinto falta do seu cheiro, do seu toque, do seu beijo, dos seus braços em volta da minha cintura. Sinto falta da sua voz, da sua presença. Do seu sorriso maravilhoso e de seus olhos azuis perfeitos.
Sinto falta das noites em claro em que ficávamos conversando besteira. Falando do futuro, falando da vida, das pessoas, de tudo. Da saudade que sentíamos um do outro. E de quando você me chamava de minha pequena, meu amor e de minha noiva. Sim, eu era sua. Somente sua.
E na boa, eu acho que ainda sou. No fundo, eu nunca consegui - nem nunca conseguirei - esquecer você. Sei que isso é clichê, mas nunca mesmo. Não foi fácil me despedir, e ainda não é. Odeio ter que ficar longe, odeio ter que ir embora. O bom é que podemos sempre aproveitar nossas últimas horas juntos.
Se eu pudesse, ficaria para sempre. Sempre ao seu lado, meu amor. Dessa vez, não voltaria para casa. Nós teríamos a nossa casa, nosso lar. Quem sabe em breve com nossos filhos brincando no quintal e correndo para te abraçar quando você chegava do trabalho. E você me abraçaria por trás e me cobriria de beijos.
E eu sussurraria mais um ''eu te amo'' em seu ouvido.

Nós não somos errados juntos. Somos separados.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Era uma vez, um arco-íris de sombras.

Somente mais um dia de chuva. Água caindo do céu e logo depois escorrendo pela janela do quarto. A chama trêmula na vela refletia sombras assustadoras na parede. Mas Anne já estava acostumada. Era apenas mais um dia de chuva.
Os sinos da varanda tocaram e ela ouviu um rangido. Parecia a porta se abrindo. ''Não'', pensou. ''Não é ninguém.'' De novo. E mais uma vez. Anne não resistiu e desceu para ver o que era.
A porta estava aberta.
Mas não havia ninguém.

O chão estava molhado. Ela fechou a porta. Silêncio.

E então, uma música. Uma música leve, calma, gentil e doce... mas também assustadora. 
Ela olhou para trás, onde estava uma pequena caixinha de música.

Anne ouviu o chão rangindo no corredor escuro que levava até a escada. Passos descendo. Correu, tentando não fazer barulho. Era inútil. Alguém estava em sua casa.
Abriu a porta e escondeu-se embaixo da janela dos fundos. A chuva gelada molhava seus pés. Ela tremia e não fazia barulho algum.

O vidro da foi quebrado e estilhaçou-se por cima de Anne. 
Os passos se afastaram.

Se ela fosse para a estrada agora, ele com certeza a veria. Com cuidado, ela arrastou-se para trás da velha máquina de lavar roupa. Com o maior cuidado, pegou o telefone que ficava na parede.

''Polícia Estadual de Coldwater, podemos ajudar?''
''Te-t-tem alg-guém n-na minha ca-casa'' -ela soluçava baixo.
''Fique calma senhorita, qual seu endere...''

E então, um barulho quase esmagou seu coração.

A ligação havia... caído!?
Ela finalmente observou as grandes botas paradas em frente a sua perna e os olhos negros que a encaravam.
A mesma música da caixinha.

O mesmo arco-íris de sombras.